O evento já aconteceu em Nova Iorque, no Japão, na Grécia e pela primeira vez no Brasil, no final de novembro passado. Promovido pelo Governo francês, a conferência tinha o âmbito de falar sobre as tendências do setor agro-alimentar e sobre os desafios do setor no Brasil e na França. O famoso sociólogo francês da alimentação Claude Fishler, especializado em Antropologia da Comida e Alimentação, abriu a conferência mostrando as diferenças entre a França, os Estados Unidos e outros países.
Retomando a temática do livro que ele publicou em 2007 (aqui no Brasil, foi publicado pelo SENAC), o especialista fez uma comparação entre os hábitos alimentares dos Franceses, Europeus, e Americanos e mostrou as diferenças culturais entre esses países. No estudo, se vê que cada povo acha o outro estranho: para os norte-americanos, os franceses mostram uma rigidez bizarra: eles comem em horários fixos, com refeições seguindo um ritual rigorosamente definido e ainda passam horas na mesa. O que choca o francês, é que os americanos comem rápido, muitas vezes trabalhando ao mesmo tempo, quase sempre fazendo alguma coisa e muito pouco de forma agradável.
Entre outros fatos interessantes, mostrou que o Brasil, em termos de consumo, é bem perto da França quando se trata de comer. Enquanto os Americanos se “alimentam” e tem a prioridade de não gastar tempo inutilmente, os Brasileiros, gostam de tomar justamente o tempo e comer em grupos, de colegas, amigos ou familiares. Fato que eu tinha reparado quando cheguei no Brasil.
A nutricionista francesa Sophie Deram continuou a conferência falando dos desafios que o Brasil vai ter que enfrentar nos próximos anos em termos de alimentação devido aos fatores que o mundo conhece: urbanização, mulheres trabalhando cada vez mais – e com menos tempo para cuidar das refeições -, aumento dos lares mono-parentais ou de solteiros, etc. Embora o ministério brasileiro da Saúde acabou de publicar o Guia Alimentar para a população brasileira – o que foi saudado no ramo – a nutricionista doutora da USP, advertiu contra os excessos e particularmente as dietas. Acabando de lançar o livro “O peso das dietas”, ela combate todo tipo de dieta que tira o prazer de comer. Segundo a francesa, especialmente durante esse período de festas, “o segredo é de comer com prazer, sem se jogar na comida: saborear lentamente e não com pressa e engolindo com excesso. O corpo consegue sem problema lidar com um excesso de uma vez, ele não vai necessariamente armazenar se você se comporta com calma e prazer.”
Para ilustrar o intercâmbio entre nossos dois países e a paixão que existe entre chefs franceses e chefs brasileiros o delicioso coquetel de encerramento do evento foi realizado a quatro mãos pelo Chef Laurent Suaudeau com ajuda do jovem e talentoso Chef Onildo Rocha, do Restaurante Roccia em João Pessoa, descoberto pelo próprio Chef Laurent. Conceberam um menu franco-brasileiro propando um dialogo entre os ingredientes daqui, o know-how de lá, a cultura daqui e o patrimônio de la. E foi um sucesso!

Nas degustações de alta gastronomia, acontecem – as vezes – explosões das papilas, emoção gustativa que faz lembrar o prato para sempre. Quando acontece, é um milagre.



Neste coquetel, eu tive dois milagres. O primeiro foi com o Medalhão de lagosta, na infusão de umbu-caja, preparado por Chef Onildo Rocha. O equilíbrio entre o ácido do embu-caja e o gorduroso da lagosta foi incrivelmente bem feito.
O segundo foi a vieira preparada pelo Chef Laurent Suaudeau, ao molho de champagne e caramel de champignon, de uma suavidade e leveza memoráveis.
O coquetel contou também com uma variedade de Queijos da França disponíveis no Brasil, desde Brillat-Savarin até Comté, Camembert, Brie ou Fourme d’Ambert. Outras especialidades tipicamente francesas cada vez mais presentes na cultura brasileira.